Propagandas ideológicas sempre empregam figuras de monstros, animais peçonhentos e criaturas diabólicas para atribuir um sentido nefasto ao adversário. Inscreva-se http://bit.ly/canaldoAndre
Este vídeo analisa uma série de imagens utilizadas na fabulação de teorias da conspiração no século XX.
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Referência bibliográfica
GIRARDET, Raoul. Mitos e mitologias políticas. São Paulo: Cia das Letras, 1987.
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Nas mais diversas peças de propaganda ideológica da história do século XX, a gente pode observar que o padrão das narrativas das teorias da conspiração, em geral, reproduzem, essencialmente, as imagens míticas da descida progressiva para o abismo, para o subterrâneo e para as trevas.
Capitalistas contra comunistas. Antissemitas contra judeus. Liberais contra socialistas. Nazistas contra comunistas e vice versa.
Todas as doutrinas ideológicas se empenharam para utilizar esses tipos de imagens para carregar o inimigo com um espectro sombrio, maléfico e diabólico.
É quase sempre à noite que os conspiradores combinam de se encontrar para tramar os seus planos secretos.
Esses inimigos usam vestimentas escuras e sombrias. Os homens de preto são a representação clássica da organização secreta que atua no controle do planeta.
E a noção de que eles atuam no subterrâneo e todas as suas variações – a caverna, a cripta, o porão, o andar secreto no subsolo – tudos esses símbolos têm um papel essencial na construção do discurso da conspiração.
Escritores de livros de aventuras sabem disso e utilizam essas imagens com muita desenvoltura. Eles percebem que as pessoas se impressionam muito com essas descrições.
Escritores envolventes sabem manipular a angústia dos leitores com tanta segurança, que muitos passam a desconfiar, acreditar e mesmo jurar que aquela história é verdadeira.
A partir de imagens arquetípicas, que nos causam temor desde sempre, como a escuridão, a sombra, o nevoeiro, a tempestade que se anuncia, escritores introduzem os leitores em um mundo incompreensível e, exatamente por isso: amedrontador.
Surgidos sempre de lugares longínquos, misteriosos, os homens de preto têm a função de encarnar a ameaça do não-familiar, do Outro, do Estrangeiro no sentido mitológico do termo.
A ameaça que essas figuras inspiram é aquela que jamais deixou de assombrar os pesadelos das cidades pacíficas e ordeiras: a do vagabundo , que com a sua simples presença rondando os bairros já ameaça os lares felizes.
Ou do forasteiro misterioso que traz a doença e a epidemia, e que faz a colheita apodrecer e o gado morrer. Ou a do intruso que invade as casas das famílias e provoca perturbação e a ruína.
“A insegurança e o medo começam com a passagem dos desconhecidos que vagueiam na noite”
E é na sombra também que se escondem os animais imundos. É da sombra que eles surgem.
Não é à toa que as imagens cuidadosamente escolhidas para representar os inimigos de modo repulsivo procuram sempre associar o outro a um bestiário mítico que causa arrepios no inconsciente.
Esse bestiário reúne todo animal que rasteja, se infiltra e se esconde, que é ondulante e viscoso, que é portador da sujeira e a infecção. A serpente, o rato, a sanguessuga, o polvo... e entre os animais repulsivos, a imagem da aranha é uma das mais poderosas. E não é por acaso. A aranha é o animal peçonhento que tece a sua armadilha com uma paciência meticulosa, envolve as suas vítimas, entrelaçando a presa no emaranhado de suas teias, até devorá-la lentamente.
Pela sua capacidade de se multiplicar silenciosamente e espalhar a doença de forma invisível, a imagem da praga foi amplamente utilizada nas propagandas ideológicas para atribuir um sentido repulsivo e instigar o ódio e o desejo de extermínio do inimigo.
O porco que se alimenta do lixo, da podridão e da sujeira, e também o lobo assassino, de olhos de fogo e sedento de sangue, são outros animais que costumam fornecer imagens poderosas nas disputas simbólicas da propaganda ideológica.
Mas em uma perspectiva mitológica, as propagandas criadas para associar uma imagem torpe ao adversário político podem evoluir muito rapidamente desse bestiário sombrio e repulsivo para uma representação literalmente maléfica e diabólica do outro.
Explicando as teorias da conspiração
30 de dezembro de 2014
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